Qualidade de vida

Comunidade fecha tráfego na zona do Porto na noite desta segunda-feira

Dezenas de moradores queimaram pneus, papelão, troncos e galhos de árvore para protestar contra falta d'água, que segundo eles já dura quatro meses na região

Leandro Lopes -

Se a água acabou a paciência está por um fio na região do Porto de Pelotas - sobretudo para os moradores das ruas Gomes Carneiro, Três de Maio, Vereador Boaventura Barcelos, Doutor José Barbosa Gonçalves, Antero Vitoriano Leivas e adjacências.

Na noite desta segunda-feira (13), dezenas deles interromperam o trânsito na Gomes Carneiro, em direção ao Campus Anglo da UFPel, para protestar contra a situação a que estão submetidos, conforme eles, há quatro meses - quando o abastecimento só passou a funcionar, precariamente, durante a madrugada. Quando funciona.

Além de ocuparem a via, os manifestantes queimaram pneus, papelão, jornais, troncos e galhos de árvore. A CEEE desligou a luz da região, segundo eles, para evitar que as chamas atingissem a fiação. Mas mesmo no escuro a comunidade chamou atenção para o problema que teria piorado sensivelmente nos últimos 15 dias. "Agora não tem nada", confirmou a dona de casa Márcia Gomes Afonso, moradora na Antero Vitoriano Leivas, entre Gomes Garneiro e Três de Maio. Na sua casa em especial a situação fica ainda mais dramática pela quantidade de moradores: são dez, com ela. Dentre esses três crianças - duas usam fraldas. Sem água, fica difícil. Ela concorda. A vizinha Schirlei Luche reforça: "A água, quando raramente tem, de madrugada, vem encardida, com cheiro azedo", diz, indignada. Além de comprometer a qualidade de vida dela e da sua família, prejudica também sua atividade profissional. Dona de um salão de beleza na Três de Maio, entre Vereador Boaventura Barcelos e Doutor José Barbosa Gonçalves, vê a clientela minguar diante de uma situação que se arrasta desde o fim do ano passado. "Quem vai restituir esse prejuízo", pergunta. Além da falta de clientes, se queixa das duas duchas da marca Lorenzetti queimadas - investimento que lhe custou R$ 400,00. Ela atribui o dano à falta crônica de água. Para Graça Silva, moradora da Antero Vitoriano Leivas, é pelo mesmo motivo que sua máquina de lavar parou de funcionar. A dona de casa sabe que não será ressarcida. Mas, sem água, sem solução: "Não tem como trazer um técnico para resolver", afirma.

É de se imaginar a contrariedade em relação ao serviço prestado pela prefeitura. Alguns moradores dizem que já estiveram no Sanep mais de 30 vezes. Ultimamente, reclamam, chegam a ser tratados com deboche. Dizem também que mais de uma vez equipes da autarquia estiveram na região. Teriam aberto "buracos", não descobriram o problema e "não voltaram mais". As contas, no entanto, marcam presença todo mês. Carla Borba, uma das organizadoras do protesto desta noite, diz que em alguns boletos é cobrada por "excesso". "Passei todo o verão sem água e minha dívida é de R$ 400,00, virou uma bola de neve", disse. Tomar banho e lavar a roupa em casa de amigos e conhecidos se tornou hábito. No seu caso, precisa cruzar a Dom Pedro II para isso - o imóvel onde tem lavado a roupa e tomado banho fica para ela em outro extremo da cidade, quase na divisa da área central com o bairro Simões Lopes.

É isso ou sair da cama ainda de madrugada para ter direito a um banho - ainda assim, com pouca pressão. Realidade de Renan Ferreira Pereira, 11 anos, estudante do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio La Salle. Ele diz que tem acordado pouco antes das 6h para ter acesso a um, palavras dele, "banho de gato". "É isso ou vou sem banho", afirmou.

A seca que atinge os moradores da região dá margens à desconfiança. A reportagem ouviu que em empresas e instituições vizinhas à área atingida não se ouvem reclamações quanto ao abastecimento de água. Se falou até que a água estaria sendo "puxada", por isso o problema. O certo é que a água falta e os moradores não pretendem descansar até vê-la de novo, escorrendo de torneiras e chuveiros. Há quem fale nos próximos dias em transferir a manifestação desta noite para o centro da cidade, em frente ao Sanep - e em horário comercial. Ou então se dirigir em caravana à prefeitura para uma reunião com a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB). Por aí. Água e paciência se tornaram artigos raros na zona do Porto.

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